Denise Está Chamando


Denise está chamando, filme de Hall Sawen é um filme que costuma deixar o espectador afetado. O afeto que ele provoca no entanto nem sempre é dos mais agradáveis. Pode provocar ódio, irritação, vontade de sair da sala, mas de qualquer forma, é um filme que mexe. É uma comédia, mas tem um tom trágico, dado pelo enredo e pelo destino dos personagens. Os personagens vivem muito no virtual, um mundo em que podem acontecer encontros reais, só que estes quase não acontecem. O virtual é o que pode vir a ser real. É portanto potencial.A origem das realidades virtuais, remonta à escrita hieroglífica, às representações da vida nas cavernas que nos é indicada pelas inscrições.É a simulação da realidade por imagens.

Como um encontro marcado para um momento posterior, pode vir a acontecer o evento ou não. Nesse sentido o virtual envolve um futuro real, assim como um passado virtual. Podemos imaginar como foi a vida nas cavernas do deserto da Capadócia através das inscrições, túneis e arquitetura das cavernas, assim como podemos fazer maquetes de futuras casas no computador. O virtual é o que pode vir a ser ou ter sido. Em 1968 cunhou-se o termo realidade virtual. Esta é tão material quanto a fotografia, o cinema e o vídeo.Logo no começo do filme, fala-se de uma festa à qual ninguém compareceu. As comidas aparecem intocadas, indicando um preparo cuidadoso do buffet.Como num sonho, onde desejamos ou vivemos uma experiência, acordamos e percebemos que estamos em casa, na cama dormindo e não viajando em outros lugares. O virtual não passa de um sonho.Como o sonho se passa no gerúndio, assim o virtual também. Acordamos assustados, felizes, porém a realidade material permanece a mesma. O que muda é a realidade psíquica./ Que espécie de mudança é essa? Quando Jerry e Barbara transam, pelo telefone, o que acontece? E sempre para cada um uma relação solitária com o outro imaginado.O corpo não está presente do companheiro.Como se masturbar com a revista, pode-se ter o mesmo orgasmo com a voz e a situação estimulante. Não precisam comer, sair na rua, transar ,a vida pulsional desejante é trocada pelo virtual. Só que ninguém come. A virtualidade tem esse gosto de dar água na boca, só que não alimenta. Porque? Porque excita, num primeiro momento, depois, cansa.

Há a questão da rede. Quase nunca estão conectados a um só fio. Muitos telefones tocam ao mesmo tempo nessa rede. Eles ficam imersos. No início, dois dias depois da festa que não houve, aparece na cena Denise e Maruim que conversam. Ela lhe comunica que ele vai ser pai, pois pegara seu sêmen num banco, inseminara com seu óvulo e estava portanto grávida. Ela quer conhecer o pai do feto.

Ele fica contente e afetado com a idéia de ser pai.  No dia seguinte conta a seu amigo o que se passou. Este amigo vai ser apresentado a uma mulher pôr uma amiga, acaba telefonando e faz amor pôr telefone sempre com ela, até que lhe parece demasiado e entediante. A relação morre por aí.

Quatro dias depois, Denise discute se quer saber ou não o sexo do filho. A curiosidade de Martim é grande e este liga ao médico e sabe que é um m menino. No entanto Denise prefere a surpresa.
Nesse ínterim, Gail morre, a machtmaker .Denise fica triste mas faz Martim ouvir o coração de seu filho. Este é um momento de emoção ao menos para mm, pois algo pulsa, há vida, e não só morte. Ninguém foi ao enterro, só a tia que anuncia a morte e o ex. namorado passa rapidamente. Ela é só uma voz a menos no telefone. Sua morte é significativa: um celular entra no cérebro e atravessa seu tímpano. Ela engole a língua. Esta servira para falar muito, assim como o tímpano só que não conseguiu afetar, aquecer os corações dos jovens candidatos a serem apresentados. Eles tem sexo, porém não se conhecem pessoalmente/. Enquanto os amigos falam sobre seus amores, Denise entra em trabalho de parto. Há uma teleconferência e assim nasce Afrodite,deusa do amor.

Um mês depois, o pai manda um chocalho, combinam encontro na festa de Reveillon em homenagem à amiga virtual morta. Na festa não chegam a entrar, a única que insiste em tocar a campainha é Denise que chama para conhecer, sociabilizar, Ter uma família normal. Só ela consegue se acasalar, o pai olha o filho e saem juntos empurrando o vacino/.
O que isto quer dizer? Que os encontros reais, são os que valem não os virtuais. Estes não passam de convites, expectativas, potencialmente são relações mas não há encontro, impacto entre dois mundos diferentes. O filho une o casal. Será este filme uma ficção como 1984 de Aldous Huxley?

Faz pensar em indivíduos isolados, sem família, sem gerações Todos parecem ter a mesma idade. Só Denise e a Tia velha tem idade e seus corpos se transformam.