Ansiedade - Fazer e Ser: Um viés Psicanalítico




por Miriam Tawil


A palavra ansiedade deriva de ânsia, aflição e angústia. Refere-se à expectativa inquieta por algo que ocorrerá. Pode ser de algo alegre, de um perigo, uma ameaça ou por algo desconhecido.

O ato do nascimento pode ser visto como uma primeira expressão de ansiedade, um estado de desprazer com atos de descarga como o grito primal. Nascemos, portanto, marcados por uma ansiedade.

Toda situação nova na vida desencadear ataques de ansiedade manifestados através de uma sudorese, choro, gritos, apneias e assim por diante. Essa sensação de receio e apreensão sem causa evidente é diferente do medo, a ansiedade não tem ainda um tema conhecido como medo de cães, de escuro ou de tempestades.

A ansiedade faz parte da situação normal no dia a dia de todo ser humano. Ela ajuda a tomar decisões. Pode se tornar um transtorno quando impede o indivíduo de realizar suas funções de modo a realizar tarefas básicas na vida, nos distúrbios do sono, da digestão, do apetite ou cefaleias, por exemplo.

Alguns indivíduos tem uma maior ou menor tolerância à ansiedade e vão adoecer segundo esse limiar. Pode haver uma diminuição da autoconfiança, uma expectativa pessimista, uma ideia aflitiva permanente ou uma ansiedade relacionada ao corpo.

A ansiedade, muitas vezes toma a forma de uma angustia que pode ser a angustia diante de um perigo exterior que constitui para o indivíduo uma ameaça real. Além desta ameaça real temos também a angustia perante um perigo interno, uma pulsão. Esta traz tantos distúrbios quanto uma ameaça real. Vemos que a questão da ansiedade é complexa.

Há ainda o conceito de dor psíquica que consiste num senso de vazio ou auto fragmentação impossível de ser colocado em palavras, uma impotência psíquica de ser comunicada aos outros. Geralmente segue-se a perda de uma pessoa significativa.

Nos dias atuais estamos sendo muito solicitados a realizar um número intenso de tarefas e quase não sobra tempo para o descanso. Se antes vivíamos na era da disciplina, passamos a viver sob a égide do desempenho. Temos que ser bons no que fazemos e sempre superar metas. Isso faz com que tenhamos pouco tempo para refletir sobre o que realmente gostaríamos de estar fazendo. Sobra pouco ou nenhum tempo para isso. A pergunta e estamos contentes com a forma que levamos a nossa vida? Gostaríamos de estar em outra profissão, outra situação?

Há certo exagero em dizer que a ansiedade é o mal do nosso século, pois em outras épocas também havia ansiedade com manifestações diferentes. Hoje as relações são mais líquidas, com a tecnologia e as redes sociais e WhatsApp os vínculos humanos podem ser mais frágeis, a relação muitas vezes e vista como uma ação na bolsa de valores e saímos e entramos nelas conforme os “lucros”. Só que as dores e lutos de estrar e sair de relacionamentos são muito sofridas e aí há um aumento de ansiedade. Encontros por internet podem ser comparados à compra de mercadorias, com direito a devolução caso não agrade e trocas. Nossa subjetividade como fica?

A ansiedade crônica não tem uma idade, cada indivíduo e único e vai canalizar essa ansiedade de forma única. Escritores canalizam a ansiedade para suas poesias e romances. Dostoievsky e Fernando Pessoa são exemplos de indivíduos ansiosos geniais que nos deixaram um enorme legado para entender melhor inclusive sobre ansiedade.

Outros indivíduos canalizam a ansiedade para um órgão do corpo, se houver nele essa tendência. Por que alguém faria uma ulcera e outra pessoa um enfarte? Sabemos que o que determina essa escolha e a história de vida, os fatores ambientais e a biologia

Além da fisicidade, a esfera mental determina qual dos órgãos vai receber essa carga de afetos, portanto não é igual para todos e independe do gênero da pessoa.

Pensava-se que uma anorexia seria mais frequente nas mulheres pelo excesso de demanda cultural que determina que a mulher deva ser magra. Esse traço pode ressaltar essa patologia nas mulheres, mas ela existe também nos homens.

A adolescência, a menarca, a menopausa, o ninho vazio, a inevitabilidade da morte e sua proximidade, por exemplo, podem ser fatores de ansiedade pelas novidades inerentes a esse período da vida.

As estatísticas indicam que 25% da população mundial sofre de Transtornos de ansiedade generalizada. Esse índice é alto. Médicos costumam ouvir pouco a história e como vivem seus pacientes, muitos psiquiatras ainda acham que ataques de ansiedade são “frescura”, medicam e mandam o paciente para casa. Esquecem de ver o paciente como um ser humano imerso no seu tempo e cultura.

Na sociedade do cansaço, quando a luta contra o relógio para dar conta dos inúmeros afazeres se transforma em sofrimento, é hora de se tratar.

A Psicanalise surge como uma alternativa a esse sofrimento através de um método que permite um autoconhecimento numa viagem ao interior de si mesmo, oferecendo um antídoto a esse mundo do Fazer: o mundo do Ser.