160 anos do nascimento de Freud, a psicanálise e o feminino.
por Miriam Tawil
A mulher e o feminino fazem parte da origem e da história da psicanálise. Freud começou a se interessar pelas histórias das mulheres histéricas ao invés de só tratá-las com a medicina tradicional.
Nos sintomas dessas mulheres Freud viu angústias, amores e ódios que não tinham outra forma de expressão. Passou a dar voz a esses sofrimentos, primeiro com hipnose e depois com o método da associação livre.
Ele então descobriu e conceituou o inconsciente, um lugar onde se abrigavam as fantasias reprimidas e as vivências censuradas.
O teor dessas fantasias era sempre de cunho sexual. Freud então descobriu que desde muito cedo na infância a sexualidade existe e tem consequências. Houve muita resistência a descoberta do inconsciente, assim como quando se descobriu que a terra não era o centro do universo. O inconsciente era uma descoberta revolucionária. Outra revolução era a de que os conteúdos reprimidos eram de natureza sexual.
Frases célebres como: "O que quer uma mulher?” eram proferidas por Freud assim como "Se quiser desvendar a feminilidade, pergunte aos poetas. Poesia e arte podem decifrar melhor o ser feminino do que os discursos da ciência e da psicanálise".
No tocante ao feminino, Freud sempre quis entender a mulher.
Várias hipóteses teóricas foram estudadas e depois muitas vezes revistas ou abandonadas em relação ao feminino. Uma delas trata do que acontece com a mulher ao perceber a ausência do pênis em si. Freud considerou que ela invejava o menino e sentia-se castrada.
Daí ela podia resolver isso casando, e sendo mãe de um menino. Freud, como fruto da época, considerava adequado a uma mulher casar, cuidar da casa, do marido e ter filhos.
Ao ouvir as fantasias de suas pacientes supõe que elas haviam sido seduzidas pelo pai ou algum outro homem, mas depois percebe que eram fantasias, desejos de cunho sexual e que nada realmente havia acontecido. Chamou isso Teoria da Sedução.
Essa teoria da inveja do pênis, falocentrica e da castracao foram depois revistadas por analistas mulheres com Karen Horney, Sabina Spilreim, Marie Bonaparte, e Melanie Klein entre outras. A mulher tem um útero, invisível. Não e castrada mas sim, diferente. Essas mulheres deram enormes contribuições ao estudo do feminino.
Essa teoria cai por terra. Surge a teoria do Complexo de Edipo onde a menina deseja casar com seu pai e o menino com sua mãe. Isso se da segundo ele em torno dos quatro anos de idade. Antes da fase genitál a menina passa pela fase oral, anal, fálica até chegar a genitál. A criança segundo Freud o perverso polimorfo pois ainda não desenvolveu a primazia que permite o ter filhos.
Cada uma dessas psicanalistas acrescentou o ser mulher como algo muito diferente de ter uma falta mas sim, de ter uma interioridade criativa, alvo da inveja dos homens.
Mais tarde Freud desenvolve sua concepção da bissexualidade: independente do sexo biológico, existe a questão do gênero.
O feminino no homem passa a ser estudado com mais detalhe e Freud liga isso a uma capacidade para a subjetivação e a interioridade, tanto no homem como na mulher.
Entretanto a mulher seguia sendo para ele um continente negro, apesar de ter dedicado sua vida a estudá-la.
Na sociedade brasileira de psicanálise existe um grupo que estuda questões de gênero. Um congresso recente tinha como título intolerância ao feminino. Em tempos de casamentos entre dois homens ou duas mulheres e necessário rever essas questões. Há muito a ser pensado e compreendido.